A adolescência e a pré-adolescência são períodos desafiantes. O corpo sofre alterações, a autoconfiança fica fragilizada e a pressão para corresponder a padrões de beleza irrealistas aumenta. Oito em cada 10 raparigas portuguesas concordam que é atribuída uma importância demasiado grande à beleza como fonte de felicidade, e sete em cada 10 sentem pressão para estarem sempre apresentáveis e arranjadas. As jovens de hoje em dia acreditam que a beleza é um fator-chave para ter sucesso na vida e, por isso, uma em cada cinco raparigas, até aos 18 anos, está disposta a sacrificar até cinco anos de vida para atingir o seu ideal de beleza.
Estes são os mais recentes dados da Dove, que realizou um estudo a nível nacional para dar resposta à problemática dos desafios à imagem e autoestima das jovens e mulheres portuguesas. Desde a primeira campanha pela Beleza Real em 2004, a marca tem contribuído para que as novas gerações desenvolvam uma relação mais positiva com a sua aparência. O Projeto pela Autoestima é a principal iniciativa da Dove, que tem como meta educar 250 milhões de jovens em 150 países até 2030. Está implementado em Portugal desde 2020, em parceria com um trio de psicólogas da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto e a EPIS (Empresários pela Inclusão Social), e dirige-se às camadas mais jovens.
Educar para a autoestima os adultos de amanhã
A nível nacional, o programa intitulado “Eu Confiante” é lecionado por professores na disciplina de Cidadania e Desenvolvimento em turmas do 2.º e 3.º ciclo, e já impactou diretamente mais de 60 mil jovens. Este programa, certificado pelo Ministério da Educação, visa ajudar os adultos de amanhã a desenvolverem uma imagem corporal positiva e a combaterem os efeitos negativos da pressão social e dos padrões de beleza irrealistas. “Os dados indicam que a maioria dos alunos apresenta um aumento significativo na autoestima, na satisfação com a aparência e com o peso”, indicam as psicólogas Filipa Mucha Vieira, Sandra Torres e Raquel Barbosa em representação do projeto.
Os próprios professores relatam melhorias na dinâmica de turma e na redução de casos de bullying, além de um aumento na confiança e aceitação entre os alunos. “Há conflitos internos que melhoraram e quando alguém faz um comentário com base na aparência já são os próprios colegas a insurgirem-se”, comenta o trio de psicólogas. Há histórias inspiradoras, como a de uma jovem que, ao participar no programa, começou a aceitar e a valorizar os seus caracóis após receber um elogio da turma. “Ver alunos a tornarem-se mais confiantes, a socializarem com mais facilidade, a aceitarem-se como são e a respeitarem (e apreciarem) a diversidade é muito gratificante”, acrescentam.
- 52% dos pais acreditam que as redes sociais têm mais poder para moldar a autoestima e a confiança dos seus filhos do que eles próprios no desempenho das suas funções de pais;
- 48% dos pais sentem-se culpados por não estarem a proteger suficientemente bem os seus filhos daquilo que veem e ouvem nas redes sociais diariamente;
- 85% dos pais concordam que as redes sociais precisam de mudar para darem uma experiência mais positiva aos adolescentes e que é necessário adotar leis para responsabilizar as plataformas pelos danos que estão a causar à saúde mental dos jovens.
Além dos conteúdos em sala de aula, a Dove também disponibiliza vários conteúdos online para pais, educadores, mentores e líderes de juventude. “Para ser eficaz, a promoção da autoestima e da imagem corporal positiva deve envolver todos os contextos em que os jovens interagem, incluindo a família, as escolas e a comunidade em geral”, recomendam as psicólogas Filipa Mucha Vieira, Sandra Torres e Raquel Barbosa. Pode (e deve) usar estas ferramentas pedagógicas para trabalhar a autoestima junto dos jovens: incluem-se artigos, workshops e atividades didáticas que ajudam a abordar questões pertinentes na adolescência e ensinam a utilizar as redes sociais de forma mais saudável e positiva.
O impacto das redes sociais na confiança
A verdade é que a pressão exercida pelas redes sociais tem um impacto negativo na autoestima dos jovens e leva a que, aos 13 anos, 76% das raparigas já tenham utilizado aplicações para manipular digitalmente a sua imagem em fotografias, e que 64% tentem modificar ou esconder uma parte do corpo antes de publicarem uma fotografia sua nas redes sociais. “Daqui podem resultar comportamentos que evidenciam uma vontade de mudar a aparência, tais como o uso de filtros na publicação de fotografias, a preocupação excessiva com a aparência, o evitamento da exposição do corpo (por exemplo, na praia) ou comportamentos alimentares preocupantes”, defendem as representantes do programa “Eu Confiante”.
Sabemos, inclusive, que cerca de metade dos jovens já foram expostos a conteúdos nas redes sociais que incentivam comportamentos de restrição ou distúrbio alimentar. A exposição prolongada a imagens idealizadas ainda pode levar ao aumento de problemas de saúde mental, como a ansiedade e a depressão. Segundo as psicólogas Filipa Mucha Vieira, Sandra Torres e Raquel Barbosa, para minimizar os efeitos negativos “as plataformas de redes sociais poderiam, por exemplo, promover conteúdos que valorizassem a diversidade corporal e a autenticidade”. Alertar sobre o uso de filtros, desenvolver campanhas educativas incentivando a aceitação corporal e promover o uso moderado das redes sociais são mais alguns exemplos.
Já os influenciadores digitais também podem desempenhar um papel crucial na formação da autoestima dos jovens ao “promoverem a aceitação corporal, a diversidade e a autenticidade”, confirmam as especialistas em conversa. “É importante que usem as suas plataformas de maneira responsável, evitando a promoção de padrões de beleza irrealistas e sendo transparentes sobre o uso de filtros e edições de imagem. Aqueles influenciadores que partilham as suas próprias lutas com a imagem corporal e que incentivam a aceitação podem ser modelos positivos para os jovens.”
A importância de uma imagem corporal positiva
A pouca confiança em relação ao corpo e a ansiedade relacionada com a aparência afetam a saúde, amizades e até o desempenho escolar. Uma imagem corporal positiva é essencial para um desenvolvimento saudável: “Jovens com uma imagem corporal positiva tendem a ter mais estabilidade emocional e mais confiança para prosseguir os seus objetivos. Normalmente cuidam mais do corpo e respeitam as suas necessidades, o que se torna protetor relativamente ao desenvolvimento de perturbações do comportamento alimentar e outras condições relacionadas com imagem corporal negativa”, notam Filipa Mucha Vieira, Sandra Torres e Raquel Barbosa. Logo, a educação sobre autoestima não é apenas essencial, mas também é claramente eficaz.
É urgente educar os jovens sobre a temática da autoestima, para que ultrapassem as suas inseguranças sobre o corpo e atinjam todo o seu potencial, ao desenvolverem a confiança desde cedo. “Para incentivar os jovens a expressarem-se com confiança e autenticidade nas redes sociais é importante promover a autoaceitação e a valorização da sua individualidade. Momentos em casa e na escola que incentivem a reflexão sobre as próprias qualidades e conquistas, e que ofereçam um espaço seguro para a partilha de experiências e sentimentos, podem ser muito úteis. Os jovens devem ser encorajados a celebrar as suas diferenças e a focarem-se em conteúdos que os façam sentir bem ‘na sua pele’, ao invés de se compararem com os outros”, aconselham.
70% das raparigas:
- Apenas publicam fotografias suas se parecerem perfeitas;
- Comparam-se com imagens de outras pessoas das suas redes sociais, incluindo conhecidos, amigos, familiares e influenciadoras/celebridades.
Assim, as novas gerações devem estar equipadas com a resiliência para questionar os padrões de beleza da sociedade e definir a beleza nos seus próprios termos. “Lembrem-se de que vocês são mais do que a vossa aparência! Valorizem as vossas qualidades, competências, aquilo que o vosso corpo consegue fazer e o que vos torna únicos. A beleza verdadeira está na diversidade e na autenticidade. Sejam gentis convosco mesmos e não se comparem aos padrões irreais que veem nas redes sociais. Amem e respeitem o vosso corpo, mesmo que identifiquem alguma característica que gostassem que fosse diferente”, recomenda o trio de psicólogas. Porque jovens confiantes são sinónimo de adultos que se aceitam e que conseguem ver em si a beleza real.