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Dove compromete-se a nunca utilizar IA para representar mulheres reais

A ameaça à representação da Beleza Real introduzida pela inteligência artificial foi debatida na celebração dos “20 anos de Beleza Real” da Dove no Jardim da Estrela. A marca prometeu nunca usar IA em substituição de pessoas reais nos seus anúncios


Publicado em 23 de Julho de 2024 às 17:07

Dove compromete-se a nunca utilizar IA para representar mulheres reais

Painel da talk Beleza 4.0: a revolução da IA

A inteligência artificial (IA) está a perpetuar padrões irrealistas de beleza que poderão em breve dominar o mundo digital. Foi por isso que, 20 anos depois de lançar a campanha pioneira para a Beleza Real, a Dove se comprometeu a nunca utilizar a IA para representar mulheres reais nos seus anúncios – confirmou Marta Quelhas, em representação da marca, no evento “20 anos de beleza real”, realizado nos dias 29 e 30 de junho, no Jardim da Estrela, em Lisboa.

Na talk intitulada “Beleza 4.0: a revolução da IA”, a Dove convidou José Sobral, designer, Pau Storch, fotógrafo, Francisco Ascensão, CEO da SocialTalk, e Marta Quelhas, representante da Dove, para debaterem a ameaça à representação da Beleza Real trazida pela inteligência artificial. Com a moderação da atriz Carla Andrino, os especialistas conversaram sobre como a ascensão desta tecnologia pode representar um desafio, mas também uma oportunidade.

Os desafios e as oportunidades da IA

“Prevê-se que até 2025, 90% dos conteúdos online sejam gerados por IA. Como é que podemos garantir que esses conteúdos e imagem sejam representativos da Beleza Real?”, questionou Carla Andrino para dar início ao debate. “A inteligência artificial pode criar imagens maravilhosas, mas se não for treinada com diversidade, corre o risco de perpetuar os mesmos estereótipos que estamos a tentar combater”, confirmou o fotógrafo Pau Storch. “Mas se nós estamos sempre a alimentar os servidores só com o melhor lado da nossa vida, a IA só pode trabalhar em função disso”, reforçou o profissional que usa a fotografia para sensibilizar para a importância do genuíno em detrimento do manipulado.

A campanha da Dove com o nome “O Código” vem exatamente alertar para o facto de a inteligência artificial ter o poder de se tornar naquilo que as pessoas querem que ela seja. Segundo o novo anúncio, a maioria das instruções genéricas que descrevem uma mulher bonita ou confiante apenas geram representações estereotipadas, excluindo deficiências, tons de pele, tamanhos de corpo, características faciais e outros identificadores únicos. De facto, a IA pode refletir os preconceitos da sociedade em relação à representação das mulheres, mas também pode aprender a tornar-se mais diversificada e inclusiva ao representar diversas culturas e identidades visuais.

Em resposta, José Sobral destacou a importância da representatividade no seu trabalho como Generative AI lead da Revolve e diretor criativo da PAATIFF. “A preocupação com a representatividade está sempre presente, seja em modelos reais ou gerados por IA”, afirmou José Sobral. O designer, premiado com o 1.º lugar na primeira edição da Semana da Moda de IA, enfatizou a complexidade desta tecnologia, alertando para a necessidade de treinar modelos de IA com bases de dados mais representativas. “É uma preocupação ética que tem de estar de mãos dadas com a inteligência artificial”, disse José Sobral.

Por sua vez, Francisco Ascensão também sublinhou a importância de utilizar IA de forma ética, respeitando a diversidade e garantindo que a tecnologia contribua para a inclusividade. O CEO da plataforma SocialTalk (responsável pelo desenvolvimento de um software de influencer marketing que permite a realização de um match entre as marcas, o seu público-alvo, e o influenciador mais adequado para tal) acrescentou que, apesar de a IA não dever ser usada para alterar o conceito de Beleza Real, esta ferramenta pode ser útil para melhorar a experiência do consumidor. “A IA é uma ferramenta poderosa, mas deve ser usada com responsabilidade. Não deve alterar o conceito de Beleza Real, mas pode ajudar a recomendar produtos mais adequados aos consumidores”, mencionou Francisco Ascensão com foco nos aspetos negativos e positivos.

  • Painel da talk Beleza 4.0: a revolução da IA

    Painel da talk Beleza 4.0: a revolução da IA

  • Francisco Ascensão, CEO da SocialTalk

    Francisco Ascensão, CEO da SocialTalk

  • José Sobral, designer, e Pau Storch, fotógrafo

    José Sobral, designer, e Pau Storch, fotógrafo

  • Marta Quelhas, representante da Dove

    Marta Quelhas, representante da Dove

  • Carla Andrino, atriz e psicóloga

    Carla Andrino, atriz e psicóloga

    O compromisso da Dove com a Beleza Real

    “Nós queremos ensinar a inteligência artificial, que será e já é uma ferramenta extraordinária para tantas áreas e para tantos trabalhos, a ser inclusiva”, explicou Marta Quelhas, em representação da Dove. Para ajudar a IA a tornar-se diversificada, a marca de beleza que já conquistou a lealdade dos portugueses lançou uma ferramenta gratuita para ensinar o utilizador a gerar imagens de beleza “mais Dove”, isto é, imagens que sejam representativas daquilo que é a beleza real. O Guia de Sugestões da Beleza Real inclui um glossário de termos para ajudar a criar conteúdo visual que amplia a representação da beleza nas ferramentas generativas de IA mais populares.

    Simultaneamente, Marta Quelhas renovou a promessa da Dove em nunca usar imagens geradas por IA em substituição de pessoas reais nos seus anúncios. “Não é um compromisso muito arriscado?”, questionou a moderadora Carla Andrino. “Não é mais arriscado do que o compromisso feito há 20 anos quando dissemos que nunca íamos fazer manipulação digital de imagens”, refletiu a representante da Dove. “Vivemos o compromisso da marca e somos fiéis àquilo que advogamos. Não vamos descansar até que a beleza seja uma fonte de felicidade, e não de ansiedade”, reafirmou Marta Quelhas.

    Desde 2004, a Dove tem desafiado a forma como as mulheres são representadas nos meios de comunicação social, destacando a distorção digital e encorajando a indústria da beleza e a sociedade em geral a enfrentar o impacto nocivo que as representações irrealistas têm nas mulheres e raparigas. Duas décadas depois, a marca continua a romper com o convencional e a aumentar os esforços para proteger, celebrar e defender a Beleza Real em prol de um futuro em que as mulheres decidam o que é a verdadeira beleza – e não os algoritmos.