A inteligência artificial (IA) está a perpetuar padrões irrealistas de beleza que poderão em breve dominar o mundo digital. Foi por isso que, 20 anos depois de lançar a campanha pioneira para a Beleza Real, a Dove se comprometeu a nunca utilizar a IA para representar mulheres reais nos seus anúncios – confirmou Marta Quelhas, em representação da marca, no evento “20 anos de beleza real”, realizado nos dias 29 e 30 de junho, no Jardim da Estrela, em Lisboa.
Na talk intitulada “Beleza 4.0: a revolução da IA”, a Dove convidou José Sobral, designer, Pau Storch, fotógrafo, Francisco Ascensão, CEO da SocialTalk, e Marta Quelhas, representante da Dove, para debaterem a ameaça à representação da Beleza Real trazida pela inteligência artificial. Com a moderação da atriz Carla Andrino, os especialistas conversaram sobre como a ascensão desta tecnologia pode representar um desafio, mas também uma oportunidade.
Os desafios e as oportunidades da IA
“Prevê-se que até 2025, 90% dos conteúdos online sejam gerados por IA. Como é que podemos garantir que esses conteúdos e imagem sejam representativos da Beleza Real?”, questionou Carla Andrino para dar início ao debate. “A inteligência artificial pode criar imagens maravilhosas, mas se não for treinada com diversidade, corre o risco de perpetuar os mesmos estereótipos que estamos a tentar combater”, confirmou o fotógrafo Pau Storch. “Mas se nós estamos sempre a alimentar os servidores só com o melhor lado da nossa vida, a IA só pode trabalhar em função disso”, reforçou o profissional que usa a fotografia para sensibilizar para a importância do genuíno em detrimento do manipulado.
A campanha da Dove com o nome “O Código” vem exatamente alertar para o facto de a inteligência artificial ter o poder de se tornar naquilo que as pessoas querem que ela seja. Segundo o novo anúncio, a maioria das instruções genéricas que descrevem uma mulher bonita ou confiante apenas geram representações estereotipadas, excluindo deficiências, tons de pele, tamanhos de corpo, características faciais e outros identificadores únicos. De facto, a IA pode refletir os preconceitos da sociedade em relação à representação das mulheres, mas também pode aprender a tornar-se mais diversificada e inclusiva ao representar diversas culturas e identidades visuais.
Em resposta, José Sobral destacou a importância da representatividade no seu trabalho como Generative AI lead da Revolve e diretor criativo da PAATIFF. “A preocupação com a representatividade está sempre presente, seja em modelos reais ou gerados por IA”, afirmou José Sobral. O designer, premiado com o 1.º lugar na primeira edição da Semana da Moda de IA, enfatizou a complexidade desta tecnologia, alertando para a necessidade de treinar modelos de IA com bases de dados mais representativas. “É uma preocupação ética que tem de estar de mãos dadas com a inteligência artificial”, disse José Sobral.
Por sua vez, Francisco Ascensão também sublinhou a importância de utilizar IA de forma ética, respeitando a diversidade e garantindo que a tecnologia contribua para a inclusividade. O CEO da plataforma SocialTalk (responsável pelo desenvolvimento de um software de influencer marketing que permite a realização de um match entre as marcas, o seu público-alvo, e o influenciador mais adequado para tal) acrescentou que, apesar de a IA não dever ser usada para alterar o conceito de Beleza Real, esta ferramenta pode ser útil para melhorar a experiência do consumidor. “A IA é uma ferramenta poderosa, mas deve ser usada com responsabilidade. Não deve alterar o conceito de Beleza Real, mas pode ajudar a recomendar produtos mais adequados aos consumidores”, mencionou Francisco Ascensão com foco nos aspetos negativos e positivos.