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Como é que as redes sociais afetam os jovens portugueses?

A cantora Carolina Deslandes, a influenciadora Clara Não e as psicólogas Filipa Mucha Vieira e Rute Pinto estiveram à conversa sobre o impacto das redes sociais na saúde mental dos adolescentes, num debate moderado pela atriz Carla Andrino


Publicado em 23 de Julho de 2024 às 17:41

Como é que as redes sociais afetam os jovens portugueses?

Portugal é dos países da União Europeia em que mais jovens admitem estar viciados nas redes sociais: 86% dizem estar viciados neste tipo de plataformas, face à média europeia de 78%. E mais de metade dos pais acredita que as redes sociais têm mais poder para moldar a autoestima e a confiança dos seus filhos do que eles próprios. Estes são os dados de um estudo recente da Dove que deu origem à talk “Scroll infinito e beleza (ir)real: os jovens e a saúde mental” no evento “20 anos de Beleza Real” da Dove. Nos dias 29 e 30 de junho, a marca celebrou duas décadas de promoção da Beleza Real com conversas inspiradoras e testemunhos marcantes.

A cantora e compositora Carolina Deslandes, a influenciadora Clara Não e as psicólogas Filipa Mucha Vieira e Rute Pinto foram quatro das convidadas a subir ao palco do Jardim da Estrela, em Lisboa, para debater o impacto das redes sociais na saúde mental dos jovens em Portugal. A moderação ficou a cargo da atriz e psicóloga Carla Andrino, que iniciou a sessão destacando que “nove em cada dez jovens portugueses já foram expostos a conteúdos de beleza tóxicos nas redes sociais, incluindo os que incentivam a automutilação”. “É muito, muito preocupante”, refletiu Carla Andrino.

Talk Scroll infinito e beleza (ir)real: os jovens e a saúde mental

Adolescentes, redes sociais e autoestima

Carolina Deslandes começou por partilhar as suas estratégias pessoais para proteger a família da toxicidade das redes sociais. “Os meus filhos não sabem o que são redes sociais. Sabem o que é o YouTube, mas só podem ver conteúdos musicais. Nenhum deles tem telefone ou iPad”, contou a mãe de três filhos. “Eu acredito que as redes sociais ganharam uma proporção astronómica no que diz respeito ao ódio, ao bullying e ao body shaming quando foram legitimadas pelos media”, afirmou Carolina Deslandes. “O espaço digital também tem de ter leis”, concluiu a cantora e compositora.

Em tom de desabafo, Carolina Deslandes ainda abordou as suas próprias batalhas contra distúrbios alimentares e a pressão para corresponder a expectativas irreais: “As minhas canções, principalmente nos últimos anos, acabaram também por abordar temas da minha vida. Distúrbios alimentares, o ódio online e a solidão profunda que sentimos sempre que não estamos a corresponder a uma expectativa. Eu falo disto muitas vezes nos meus concertos, porque foi um caminho muito longo para mim”, acrescentou a cantora à frente de uma audiência repleta de fãs.

A pressão para atingir a “perfeição” é tão intensa que duas em cada dez raparigas até aos 18 anos estariam dispostas a sacrificar até cinco anos de vida para alcançar o corpo ou aparência ideal. Por consequência, esta insatisfação com a aparência tem levado a comportamentos alimentares negativos. “As alterações ao comportamento alimentar são as consequências mais comuns e perigosas”, confirmou Rute Pinto. “Mas antes disso, há sinais menos visíveis, como o isolamento e os desabafos negativos sobre si mesmos”, alertou a psicóloga com um percurso profissional focado em contextos educativos.

“Eu acredito mesmo vivamente que se chegasse um dia em que vocês conseguissem, entre aspas, arranjar tudo o que acham que está mal em vocês, iam descobrir sempre mais alguma coisa. Nunca ia parar. Nunca. Hoje em dia, uma das maiores revoluções que podemos fazer é gostar do nosso corpo”, constatou Clara Não. No meio do scroll infinito, a influenciadora sublinhou a importância de promover a saúde mental dos jovens através de livros de autocuidado e a curadoria dos feeds das redes sociais. “Devemos deixar de seguir pessoas que nos fazem sentir mal, ao invés de nos fazer sentir bem”, recomendou a criativa conhecida pela sua irreverência e ironia.

  • Carolina Deslandes

    Carolina Deslandes

  • Carolina Deslandes, cantora, e Rute Pinto, psicológa

    Carolina Deslandes, cantora, e Rute Pinto, psicológa

  • Rute Pinto, psicóloga

    Rute Pinto, psicóloga

  • Carolina Deslandes, cantora

    Carolina Deslandes, cantora

  • Clara Não, ilustradora e influenciadora

    Clara Não, ilustradora e influenciadora

  • Carla Andrino, atriz e psicóloga

    Carla Andrino, atriz e psicóloga

    Promover a confiança dos adultos de amanhã

    Filipa Mucha Vieira, por sua vez, destacou a responsabilidade coletiva de educar os jovens sobre a temática da autoestima. “É crucial que pais, educadores, professores e a sociedade como um todo se envolvam ativamente na educação dos jovens. Precisamos promover uma cultura de autoaceitação e valorização de cada individualidade”, enfatizou a psicóloga. Por essa razão, nasceu o Dove Projeto pela Autoestima. Este projeto foi implementado em Portugal, pela primeira vez, em 2020, e dirige-se às camadas mais jovens através de um programa feito em parceria com um trio de psicólogas da Faculdade de Psicologia do Porto (do qual Filipa Mucha Vieira faz parte) e a EPIS (Empresários pela Inclusão Social).

    A nível nacional, o programa intitulado “Eu Confiante” é lecionado por professores na disciplina de Cidadania e Desenvolvimento em turmas do 2.º e 3.º ciclo, e já impactou diretamente mais de 60 mil jovens. Este programa, certificado pelo Ministério da Educação, visa ajudar os adultos de amanhã a desenvolverem uma imagem corporal positiva e a combaterem os efeitos negativos da pressão social e dos padrões de beleza irrealistas​​. A meta da Dove é, até 2030, educar 250 milhões de jovens em 150 países.

    “Como uma das professoras que lecionou o programa ‘Eu Confiante’ posso dizer que, de facto, este projeto ajudou os jovens a ultrapassarem inseguranças sobre o seu corpo, desenvolverem uma confiança positiva e atingirem o seu potencial. Fez toda a diferença”, testemunhou uma docente na plateia. Além dos conteúdos em sala de aula, a Dove também disponibiliza vários conteúdos online como o guia Crescer com Confiança, para pais, educadores, mentores e líderes de juventude ajudarem os jovens a ser o seu “eu” mais confiante.

    Um caso de sucesso é o de Manu Machado, uma jovem de 15 anos do Liceu de Oeiras, que participou no programa de autoestima da Dove. “O programa ajudou-me a sentir mais confiante e ensinou-me a gostar de mim. Eu não gostava de me olhar ao espelho, das estrias, das imperfeições”, confessou entre lágrimas. Uma história que ressoou entre as centenas de pessoas presentes, demonstrando o poder de iniciativas que celebrem a Beleza Real, assumindo com respeito e amor-próprio todas as formas, tamanhos, idades e expressões únicas.